sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Afinal a casa não é minha...

Tem dois quartos – um para mim e outro para alguma visita esperada ou inesperada -, uma sala, uma cozinha e um quarto-de-banho. Se esta singela descrição fosse a razão do meu bosquejo, certamente não estaria a divagar neste teor, mas sim a dilacerar a minha vizinha de cima pelo trabalho que me deu este Domingo passado (já lá vamos…).
A descrição ligeira, em cima apresentada, resume o contexto físico que envolve o meu cenário quotidiano (em horário pós e, por vezes, laboral) e que, sem grandes surpresas, se assemelha ao meu pretérito mais do que imperfeito.
Adicionalmente, esta casa em que habito, apresenta algumas características que roçam a emoção e a tornam única perante a temida e crescente concorrência potencializada pelas agências imobiliárias que perseguem os tão procurados ‘T pequenos’ contra os freelancers recém-divorciados na busca de um simples tecto.
Começo por mencionar a varanda. Esta, fruto da paisagem que contempla (um mar muito liiindo!!), aconchega muitos corpos frios, sedentos de caipirinhas e de um triste (muito!) cigarro. Com base no livro de recordações, nela desfilaram ladies dos mais diversos gabaritos e origens, apenas estimuladas pelo barulho dos comboios e balanceadas pelas ondas do mar…
Aquele jardim que nela habita (vulgo floreira) testemunhou fardas do tamanho do mundo, vómitos aéreos (a tal história da vizinha de cima…) com os restos do belo jantar anterior, cinzeiros de prata (sim! aqui não se facilita…), belos corpos bronzeados nas cadeiras verdes, etc… Este mesmo jardim, assumo-o também como vital para o sucesso alcançado (pelos diversos intervenientes) nos serões de culinária – é ele que ‘segura’ as minhas salsas (‘Portuguesa de Amarante’ e Francesa) e a minha hortelã (aquela usada nos Mojitos). Apenas um senão: a salsa Portuguesa ergue-se como um pinheiro…vai levar motosserra para não cortar ‘as vistas’! Enfim… a varanda!
Outro sector da mesma casa é o quarto! Decorado fortemente pelo IKEA (grande amigo!) apresenta uma área XXL, apenas justificável para algumas tentativas de lançamento do martelo (sempre a ponderar o peso e a distância) ou actuações nocturnas de triplo salto com mortal e agachamento final, desde a prancha montada na soleira da janela. Este quarto, cuja persiana teima em manter-se aberta para conseguir acordar-me de manhã para ir trabalhar, permitiu-me entender a evolução do Homem até à descoberta da cama – aquele chão, apenas com uma capa plástica é um pouco duro! Tive mesmo que comprar a cama. Segundo registos do passado, e experiências mais recentes, aquele quarto apresenta um isolamento acústico unidireccional único – ouve-se a vizinha de cima a caminhar mas ela não ouve nada de baixo (a caminhar, claro)!
A sala! Local de peregrinação, repasto, trabalho e salão de baile. Esta sala, pela sua configuração geométrica semelhante a um rectângulo, testemunhou os melhores duos de salsa, kizomba, merengue e bachata alguma vez em exibição. Percebi na última festa realizada que os tapetes recolhem automaticamente e as cadeiras movem-se para a parede mais próxima – pista aberta! O sofá, com as pernas partidas (ainda ninguém se apercebeu!), foi já refúgio nocturno de almas que não encontravam o caminho para o quarto (talvez pela hora…ou não). A secretária com cadeira à patrão, testemunhou longas conversas telefónicas para o escritório e clientes diversos – de remela no olho, cueca apenas e o mar como paisagem… grande cenário para trabalhar!
Finalmente, tenho que referir o hall de entrada. Este, presenteou visitas com uma planta original de Arouca e um belo ‘Nu’ (oferecido por uma amiga muito especial), certificou corpos que nele passaram e testemunhou todo um ciclo da minha vida que ainda está a começar.
Reza a lenda que esta casa ‘agarra’ as pessoas. Eu não sei se vou acreditar, mas a verdade é que estou a passar nela alguns dos momentos mais felizes da minha vida. Como em todas as belas histórias, o final apresenta sempre um drama. O meu drama para esta descrição prende-se com a necessidade provável de ter que sair da casa… porque… afinal a casa não é minha. (o meu senhorio ainda não me confirmou a continuidade nela por mais um ano…)
Peter Pan

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Não há Pai para a minha MÃE...

Não é que eu alguma vez tenha posto em causa, mas a frequente frase, tantas vezes dita em vão, de que MÃE há só uma, nunca tão verdadeira se traduziu nos últimos tempos para mim.

Perdoem-me a escassez e a imodéstia nas palavras mas hoje queria mesmo era prestar homenagem a ESTA Heroína, e se ousasse transformar os sentimentos em palavras, certamente que este blog não teria dimensão suficiente para abarcar esta publicação.

Um Bongo.

sábado, 9 de agosto de 2008

Há vida em minha casa (para além das tomadas)

Pois é! Depois da fase em que se vai montando a mobília (build it your self), depois de arrumarmos a tralha toda que resume uma vida e depois de se ter adquirido toda a louça e adereços que achamos necessários, a casa deixa de ter mudanças significativas. Então sim… Pode-se saborear (o mel e o fel) da continuidade de morarmos só.
Comecemos pelo fel, realmente tornam-se desesperantes os dias e dias que passamos em que somos a única fonte de entropia dentro de um lar, aquilo que às vezes tanto desejamos (um pouco de silêncio), passa a ser o que mais tememos. A organização atinge cúmulos realmente exagerados, o lixo separado quase por cores e as compras arrumadas como que em estantes de hipermercados.
Li algures que quem vive só não deve encarregar-se da arrumação e limpeza da própria casa e deve contratar-se alguém que seja desorganizado/a. Se os objectos que vamos utilizando forem sendo arrumados em locais diferentes a cada semana, sem sabermos quais, temos um quebra-cabeças permanente que nos vai ocupando e gerando alguma metamorfose na casa!!!
Agora o mel :) fazer os nossos horários, ver os programas que queremos, sair à hora que nos apetecer sem prestar contas a quem quer que seja…
Mas o que estou a fazer? A verdade é que o mel também é fel e o fel também é mel!
Hoje escrevo do alto da burra! Estou de férias e finalmente faço uso do meu sofá “Brjuksa” ou lá o que é, que se converte em cama ‘king size’. Acabámos de almoçar, a minha sobrinha está a fazer a sua sestinha, a minha irmã e cunhado estão a ver um filme que um amigo me emprestou há meses para eu matar tempo e eu aqui ao lado a escrever qq coisa porque o Peter Pan me lembrou que havia de escrever algo esta semana. Daqui a pouco vamos todos para a praia e entretanto cheguei a um acordo perfeito, eles encarregam-se da culinária e eu da arrumação… Desta forma livro-me da necessidade de activar a minha veia criativa na cozinha, posso passar algum tempo com minha sobrinha antes de ela adormecer, o que acontece invariavelmente depois de almoçar ou jantar, e ainda garanto que fica tudo arrumado à minha maneira… Adoro ‘win-win situations’. Entretanto a minha casa conhece uma dinâmica a que não estou habituado, vivo dias felizes…
FAVio.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

A vida nas tomadas

Dando continuidade ao esforço dos meus companheiros de estado social, chego a acreditar que, no limite, até os electrodomésticos ganham vida própria.

O período inicial, após incorrermos no vulgo “abandono do lar” (há quem goste de banalizar esta expressão, mas eu não! aqui segue a homenagem…), é determinante para rapidamente percebermos que os momentos de apoteose da manhã – tomar um duche, seguido duma limpadela a uma toalha de ‘risca ao meio’ (vincadinha até ao tutano) e, posterior vestir de uma cueca (designada, nos tempos pós-modernos, de ‘boxer’) dobrada e passada com um rigor quase maternal (passo a explicar) – têm origem não na nossa mãe, não na nossa ex-mulher, mas sim numa tal Senhora, cujo nome vai mudando a cada pedido de aumento.

Mas mais angustiante se torna quando percebemos que o processo que decorre entre o largar a roupa numa cesta e o enfiar subtilmente no nosso corpo, é preenchido pela utilização de um electrodoméstico (deveras misterioso). Aí sim! Percebemos que não basta um frigorífico (alguns até sem ele…) e um fogão, mas também necessitamos de uma máquina de lavar roupa. O que aparentava ser um acto de alguma sofisticação (até porque existem dezenas de modelos diferentes para o mesmo objectivo, envolvem padrões de qualidade ambiental, etc…modernices), rapidamente de optimiza e acelera quando já não temos mais espaço na cesta, não temos mais meias lavadas para vestir e, principalmente (que bomba!), quando a empregada da loja se esforça em explicar que, naquele modelo específico de máquina, ‘a nossa esposa pode lavar os tapetes e os edredons’ (como se isso fosse realmente possível…crentes!).

Adquirido o produto, seguem-se as primeiras experiências. Seguindo a traça regionalista dos que ‘pensam que sabem de tudo’, com os manuais já no caixote do lixo, mandei a roupa todinha para dentro da máquina. Com a confiança que se segue neste tipo de perfil, fui dormir enquanto lavava. O melhor sono do Mundo decorria (sim, porque um colchão é um luxo nalgumas paragens) quando, subitamente, parecia que estavam a arrombar a porta de casa com especial interesse nas bacias plásticas normalmente utilizadas na substituição do sistema de rega automática, actualmente inoperacional. Sem reflectir, dirigi-me, em passo de corrida e somente com o boxer vincado, para a zona do barulho quando, afinal, todo ele provinha da recém-adquirida máquina de lavar roupa que, incompreensivelmente, pulava entre a parede e o chão da cozinha. Sincronizado com todo este barulho, o meu vizinho de baixo demonstrava as suas habilidades musicais com o dedo indicador na minha campainha. Tinha duas opções: largava a máquina, continuavam os pulos mediáticos, e apresentava-me naquele contexto à vizinhança como sendo o novo ‘vizinho de cima’, ou mantinha-me deitado em cima dela até ‘acalmar’… Preferi a segunda opção.

Na segunda lavagem, ainda crente que o acontecimento anterior tinha uma razão meramente associada à juventude e irreverência do equipamento, decidi sentar-me ‘por perto’. Assim, a trabalhar no computador, mantinha os olhos focados no programa da máquina, à espera do momento crítico da centrifugação – aquele era, para mim, o clímax onde resultavam os pulos irreverentes. Assim foi. Mal iniciou o ciclo problemático, antes que tivesse a oportunidade de me fazer apresentar novamente à vizinhança, sentei-me em cima da máquina. Mais uma vez o meu peso não conseguia conter a juventude daquela peça tecnológica. Optei por desligar a máquina, torcer a roupa manualmente e seca-la em três dias… que desafio! Após diversas reuniões com os maiores experientes neste tipo de assunto (recém-divorciados e em vias de) e ter colectado algumas opiniões (nomeadamente a distribuição desequilibrada do peso da roupa, etc…) houve uma que fez mais sentido – as molas de retenção do tambor não foram removidas! O diagnóstico confirmou-se e, surpreendentemente, pela voz de uma amiga a quem ainda hoje devo a qualidade do bem-estar que desfruto (a casa e a máquina de lavar roupa silenciosa…).

Peter Pan