Dando continuidade ao esforço dos meus companheiros de estado social, chego a acreditar que, no limite, até os electrodomésticos ganham vida própria.
Mas mais angustiante se torna quando percebemos que o processo que decorre entre o largar a roupa numa cesta e o enfiar subtilmente no nosso corpo, é preenchido pela utilização de um electrodoméstico (deveras misterioso). Aí sim! Percebemos que não basta um frigorífico (alguns até sem ele…) e um fogão, mas também necessitamos de uma máquina de lavar roupa. O que aparentava ser um acto de alguma sofisticação (até porque existem dezenas de modelos diferentes para o mesmo objectivo, envolvem padrões de qualidade ambiental, etc…modernices), rapidamente de optimiza e acelera quando já não temos mais espaço na cesta, não temos mais meias lavadas para vestir e, principalmente (que bomba!), quando a empregada da loja se esforça em explicar que, naquele modelo específico de máquina, ‘a nossa esposa pode lavar os tapetes e os edredons’ (como se isso fosse realmente possível…crentes!).
Adquirido o produto, seguem-se as primeiras experiências. Seguindo a traça regionalista dos que ‘pensam que sabem de tudo’, com os manuais já no caixote do lixo, mandei a roupa todinha para dentro da máquina. Com a confiança que se segue neste tipo de perfil, fui dormir enquanto lavava. O melhor sono do Mundo decorria (sim, porque um colchão é um luxo nalgumas paragens) quando, subitamente, parecia que estavam a arrombar a porta de casa com especial interesse nas bacias plásticas normalmente utilizadas na substituição do sistema de rega automática, actualmente inoperacional. Sem reflectir, dirigi-me, em passo de corrida e somente com o boxer vincado, para a zona do barulho quando, afinal, todo ele provinha da recém-adquirida máquina de lavar roupa que, incompreensivelmente, pulava entre a parede e o chão da cozinha. Sincronizado com todo este barulho, o meu vizinho de baixo demonstrava as suas habilidades musicais com o dedo indicador na minha campainha. Tinha duas opções: largava a máquina, continuavam os pulos mediáticos, e apresentava-me naquele contexto à vizinhança como sendo o novo ‘vizinho de cima’, ou mantinha-me deitado em cima dela até ‘acalmar’… Preferi a segunda opção.
Na segunda lavagem, ainda crente que o acontecimento anterior tinha uma razão meramente associada à juventude e irreverência do equipamento, decidi sentar-me ‘por perto’. Assim, a trabalhar no computador, mantinha os olhos focados no programa da máquina, à espera do momento crítico da centrifugação – aquele era, para mim, o clímax onde resultavam os pulos irreverentes. Assim foi. Mal iniciou o ciclo problemático, antes que tivesse a oportunidade de me fazer apresentar novamente à vizinhança, sentei-me em cima da máquina. Mais uma vez o meu peso não conseguia conter a juventude daquela peça tecnológica. Optei por desligar a máquina, torcer a roupa manualmente e seca-la em três dias… que desafio! Após diversas reuniões com os maiores experientes neste tipo de assunto (recém-divorciados e em vias de) e ter colectado algumas opiniões (nomeadamente a distribuição desequilibrada do peso da roupa, etc…) houve uma que fez mais sentido – as molas de retenção do tambor não foram removidas! O diagnóstico confirmou-se e, surpreendentemente, pela voz de uma amiga a quem ainda hoje devo a qualidade do bem-estar que desfruto (a casa e a máquina de lavar roupa silenciosa…).
Peter Pan
1 comentário:
Não consigo parar de rir!
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