Tem dois quartos – um para mim e outro para alguma visita esperada ou inesperada -, uma sala, uma cozinha e um quarto-de-banho. Se esta singela descrição fosse a razão do meu bosquejo, certamente não estaria a divagar neste teor, mas sim a dilacerar a minha vizinha de cima pelo trabalho que me deu este Domingo passado (já lá vamos…).
A descrição ligeira, em cima apresentada, resume o contexto físico que envolve o meu cenário quotidiano (em horário pós e, por vezes, laboral) e que, sem grandes surpresas, se assemelha ao meu pretérito mais do que imperfeito.
Adicionalmente, esta casa em que habito, apresenta algumas características que roçam a emoção e a tornam única perante a temida e crescente concorrência potencializada pelas agências imobiliárias que perseguem os tão procurados ‘T pequenos’ contra os freelancers recém-divorciados na busca de um simples tecto.
Começo por mencionar a varanda. Esta, fruto da paisagem que contempla (um mar muito liiindo!!), aconchega muitos corpos frios, sedentos de caipirinhas e de um triste (muito!) cigarro. Com base no livro de recordações, nela desfilaram ladies dos mais diversos gabaritos e origens, apenas estimuladas pelo barulho dos comboios e balanceadas pelas ondas do mar…
Aquele jardim que nela habita (vulgo floreira) testemunhou fardas do tamanho do mundo, vómitos aéreos (a tal história da vizinha de cima…) com os restos do belo jantar anterior, cinzeiros de prata (sim! aqui não se facilita…), belos corpos bronzeados nas cadeiras verdes, etc… Este mesmo jardim, assumo-o também como vital para o sucesso alcançado (pelos diversos intervenientes) nos serões de culinária – é ele que ‘segura’ as minhas salsas (‘Portuguesa de Amarante’ e Francesa) e a minha hortelã (aquela usada nos Mojitos). Apenas um senão: a salsa Portuguesa ergue-se como um pinheiro…vai levar motosserra para não cortar ‘as vistas’! Enfim… a varanda!
Outro sector da mesma casa é o quarto! Decorado fortemente pelo IKEA (grande amigo!) apresenta uma área XXL, apenas justificável para algumas tentativas de lançamento do martelo (sempre a ponderar o peso e a distância) ou actuações nocturnas de triplo salto com mortal e agachamento final, desde a prancha montada na soleira da janela. Este quarto, cuja persiana teima em manter-se aberta para conseguir acordar-me de manhã para ir trabalhar, permitiu-me entender a evolução do Homem até à descoberta da cama – aquele chão, apenas com uma capa plástica é um pouco duro! Tive mesmo que comprar a cama. Segundo registos do passado, e experiências mais recentes, aquele quarto apresenta um isolamento acústico unidireccional único – ouve-se a vizinha de cima a caminhar mas ela não ouve nada de baixo (a caminhar, claro)!
A sala! Local de peregrinação, repasto, trabalho e salão de baile. Esta sala, pela sua configuração geométrica semelhante a um rectângulo, testemunhou os melhores duos de salsa, kizomba, merengue e bachata alguma vez em exibição. Percebi na última festa realizada que os tapetes recolhem automaticamente e as cadeiras movem-se para a parede mais próxima – pista aberta! O sofá, com as pernas partidas (ainda ninguém se apercebeu!), foi já refúgio nocturno de almas que não encontravam o caminho para o quarto (talvez pela hora…ou não). A secretária com cadeira à patrão, testemunhou longas conversas telefónicas para o escritório e clientes diversos – de remela no olho, cueca apenas e o mar como paisagem… grande cenário para trabalhar!
Finalmente, tenho que referir o hall de entrada. Este, presenteou visitas com uma planta original de Arouca e um belo ‘Nu’ (oferecido por uma amiga muito especial), certificou corpos que nele passaram e testemunhou todo um ciclo da minha vida que ainda está a começar.
Reza a lenda que esta casa ‘agarra’ as pessoas. Eu não sei se vou acreditar, mas a verdade é que estou a passar nela alguns dos momentos mais felizes da minha vida. Como em todas as belas histórias, o final apresenta sempre um drama. O meu drama para esta descrição prende-se com a necessidade provável de ter que sair da casa… porque… afinal a casa não é minha. (o meu senhorio ainda não me confirmou a continuidade nela por mais um ano…)
Peter Pan
2 comentários:
de facto, a vista da tua varanda é simplesmente fantástica... e por si só justifica todos os cêntimos que pagas pela "tua" cubata!
haveria muito mais para dizer sobre as instalações, as jantaradas, insolações solares, sessões de dança, flirts,... mas vou ser egoísta e guardar isso tudo para mim!
podias era guardar para ti o facto que te levantas tarde e a más horas e ficas em casa a "trabalhar"(?) - por quem me tomas???
ficas é a curtir o solzinho (INVEJA)... e nem dá para disfarçar! não te esqueças de agradecer ao "pescoço" pelas mordomias (a.k.a. "flexibilidade"/"isenção" de horário) proporcionadas... ;-)
e sim, eu faço parte da lista dos invejosos que se babam todinhos quando aparecem lá em casa...
Mike
P.S.: Mensagem especial para o "pescoço"
Pensas que vives bem(?) mas há quem viva com ainda mais estilo que tu!!! eheheh
Não há dúvida que o teu cantinho é mesmo espectacular.
Tal como o Mike, eu também já tive o prazer de disfrutar da vista magnífica da tua varanda e de participar nas grandes "parties" que tu dás.
A salsa Portuguesa é de Amarante concerteza e não se parece nada com um pinheiro- é mais uma palmeira...
Relativamente ao que o teu hall anda a presenciar... eu até consigo imaginar!!!
ah! se o teu senhorio não der continuidade ao contrato...vem viver para o campo!
Aqui não há praia, mas acordas com o chilrear dos passarinhos ou com o barulho do pica-pau à procura do seu pequeno almoço...
Queen Elisabeth
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